'O cabelo
vira um espaço para o racismo', afirma doutor em sociologia
Professor da Uerj, Luiz Augusto Campos comenta caso denunciado por
aluna da PUC-Rio
POR EDUARDO VANINI
26/02/2015 8:59 / ATUALIZADO 26/02/2015 16:05
Estudante de moda da PUC-Rio Gabriela Monteiro - ANTONIO SCORZA / Agência O Globo
RIO - O
caso da aluna da PUC-Rio que denunciou comentários racistas de professoras no curso de
Moda em relação ao cabelo afro voltou
a colocar os penteados no centro do debate sobre o preconceito no Brasil.
Doutor em Sociologia, o professor da Uerj Luiz Augusto Campos tem diversas
pesquisas sobre racismo e lembra que, cada vez menos, a pessoas fazem
comentários pejorativos com menções diretas à cor da pele. Entretanto, isso se
mantém quando o assunto é cabelo e mostra uma vertente do racismo brasileiro.
- O cabelo
chamado crespo ainda é colocado como "cabelo ruim", associado pelas
pessoas a algo sujo, inferior. É aí que o preconceito se expressa. A pessoa não
fala da pele, mas fala dos fios de uma forma depreciativa. O cabelo vira um
espaço para o racismo que não pode se revelar em relação à pele - analisa
Campos.
Aluna do oitavo
período de Moda na PUC-Rio, Gabriela Monteiro, de 26 anos, publicou no Facebook um texto no qual relata seu constrangimento ao
ouvir comentários considerados racistas feitos por duas professoras. Ela também
registrou queixa na 12ª DP (Copacabana). Segundo a estudante, as docentes
fizeram piadas e comentários sobre cabelo afro diante dela e da turma repetidas
vezes.
Apesar de
ponderar não ser possível se posicionar sem ter presenciado os fatos, Campos
chama atenção para o relato da estudante basear-se em episódios que aconteceram
mais de uma vez:
- Quando
há uma repetição associada, é bem provável que isso configure um caso de
racismo velado. Temos que refletir sobre isso.
Polêmicas
relacionadas a penteados afro têm levantado discussões recentes. Esta semana, a
apresentadora Giuliana Rancic, do programa "Fashion Police", pediu
desculpas à atriz Zendaya Coleman após fazer piada sobre uso de dreadlocks por ela na
cerimônia do Oscar. Durante o programa, transmitido na noite de
segunda-feira nos Estados Unidos, Giuliana disse que o penteado fazia ela
parecer como alguém que cheirava a óleo de patchouli e maconha. No ano passado,
a jornalista baiana Lília de Souza levantou a polêmica no Brasil, após ser
orientada a prender seu cabelo estilo "black power" ao tirar foto
para renovar seu passaporte, já que o sistema de imagens não
aceitava a imagem gerada, por causa do formato dos fios.
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