terça-feira, 14 de abril de 2015

"Respeitem Meus Cabelos, Branco!"

'O cabelo vira um espaço para o racismo', afirma doutor em sociologia

Professor da Uerj, Luiz Augusto Campos comenta caso denunciado por aluna da PUC-Rio

POR EDUARDO VANINI

26/02/2015 8:59 / ATUALIZADO 26/02/2015 16:05
Estudante de moda da PUC-Rio Gabriela Monteiro - ANTONIO SCORZA / Agência O Globo



RIO - O caso da aluna da PUC-Rio que denunciou comentários racistas de professoras no curso de Moda em relação ao cabelo afro voltou a colocar os penteados no centro do debate sobre o preconceito no Brasil. Doutor em Sociologia, o professor da Uerj Luiz Augusto Campos tem diversas pesquisas sobre racismo e lembra que, cada vez menos, a pessoas fazem comentários pejorativos com menções diretas à cor da pele. Entretanto, isso se mantém quando o assunto é cabelo e mostra uma vertente do racismo brasileiro.

- O cabelo chamado crespo ainda é colocado como "cabelo ruim", associado pelas pessoas a algo sujo, inferior. É aí que o preconceito se expressa. A pessoa não fala da pele, mas fala dos fios de uma forma depreciativa. O cabelo vira um espaço para o racismo que não pode se revelar em relação à pele - analisa Campos.

Aluna do oitavo período de Moda na PUC-Rio, Gabriela Monteiro, de 26 anos, publicou no Facebook um texto no qual relata seu constrangimento ao ouvir comentários considerados racistas feitos por duas professoras. Ela também registrou queixa na 12ª DP (Copacabana). Segundo a estudante, as docentes fizeram piadas e comentários sobre cabelo afro diante dela e da turma repetidas vezes.

Apesar de ponderar não ser possível se posicionar sem ter presenciado os fatos, Campos chama atenção para o relato da estudante basear-se em episódios que aconteceram mais de uma vez:

- Quando há uma repetição associada, é bem provável que isso configure um caso de racismo velado. Temos que refletir sobre isso.

Polêmicas relacionadas a penteados afro têm levantado discussões recentes. Esta semana, a apresentadora Giuliana Rancic, do programa "Fashion Police", pediu desculpas à atriz Zendaya Coleman após fazer piada sobre uso de dreadlocks por ela na cerimônia do Oscar. Durante o programa, transmitido na noite de segunda-feira nos Estados Unidos, Giuliana disse que o penteado fazia ela parecer como alguém que cheirava a óleo de patchouli e maconha. No ano passado, a jornalista baiana Lília de Souza levantou a polêmica no Brasil, após ser orientada a prender seu cabelo estilo "black power" ao tirar foto para renovar seu passaporte, já que o sistema de imagens não aceitava a imagem gerada, por causa do formato dos fios.


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