África e Brasil:
unidos pela história e pela cultura
unidos pela história e pela cultura
Reportagem Wellington Soares • Ilustrações Edson Ikê • Design Vilmar Oliveira • Programação Felipe Costa
Acosta oeste africana e o litoral
brasileiro já estiveram conectados. Há 200 milhões de anos, os dois territórios
começaram a se separar e assumiram as atuais posições, afastados milhares de
quilômetros pelo Oceano Atlântico. O mar que os separa é também o responsável
pela ligação entre eles nos tempos modernos: 4,4 milhões de africanos o
cruzaram contra a vontade entre os séculos 16 e 19 em direção ao Brasil. Essas
pessoas tiveram um papel importante na construção do nosso país. “A África está
em nós, em nossa cultura, em nossa vida, independentemente de nossa origem
pessoal”, defende Mônica Lima e Sousa, coordenadora do Laboratório de Estudos
Africanos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Leáfrica/UFRJ), no artigo História da
África,
publicado na Revista do Programa de
Educação sobre o Negro na Sociedade Brasileira, da Universidade
Federal Fluminense (UFF). Por isso, as tradições, a cultura e a trajetória dos
descendentes dos africanos escravizados compõem um objeto de estudo importante
para todas as crianças e os jovens, negros ou não.
O tráfico negreiro
e a escravidão determinaram o presente do nosso país. A população vinda do
continente africano criou aqui raízes, família, cultura, história. Hoje, 53%
dos brasileiros se declaram pretos ou pardos, de acordo com a Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2013. Esse grupo é grandemente
desfavorecido. Dados tabulados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea) comprovam: eles são a maioria dos analfabetos, com a maior taxa de
distorção idade-série, e o trabalho infantil é mais comum entre eles do que
entre brancos (veja gráficos abaixo).
Desigualdades entre
brancos e negros no Brasil
Reconhecer que
existem desigualdades raciais e combatê-las é lutar contra o racismo. A lei
10.639, em vigor desde 2003, determina que isso também aconteça dentro das
escolas, que passaram a ter de incluir o tema em seus currículos. “É assumindo
os valores criativos e positivos dessas culturas que a escola pode contribuir
para a superação do racismo e da discriminação que ainda organizam fortemente a
desigualdade brasileira”, defende André Lázaro, que esteve à frente da
Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão do
Ministério da Educação (Secadi/MEC) entre 2004 e 2011. Entre as ações
estabelecidas devem estar a Educação para o combate ao racismo, a reflexão
sobre o papel do negro na história do Brasil e a valorização da história,
cultura africana e afro-brasileira e o conhecimento científico construído por
pesquisadores e pensadores negros.
Apesar de a
legislação valer há mais de dez anos, ainda são poucos os casos em que ela é
bem incorporada ao cotidiano das escolas. Uma pesquisa realizada por diversos
órgãos (leia o
artigo com os resultados aqui) aponta os principais entraves
para a efetivação dela: há escassa formação sobre o assunto, poucos docentes
conhecem a norma e muitos não a consideram legítima. “O processo de
implementação enfrenta resistências e obstáculos pelos mesmos motivos que
justificam a existência da lei: no Brasil, há um racismo silencioso que
desqualifica o debate sobre a discriminação”, explica André Lázaro, pesquisador
da Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (Flacso).
Mudar esse cenário
requer trabalho em diversas frentes, das políticas públicas ao cotidiano da
sala de aula. As redes precisam oferecer formações e debater o tema para que os
administradores das escolas incentivem a incorporação dele em diversos âmbitos
e os professores incluam conteúdos relacionados à história e à cultura africana
e afro-brasileira em suas aulas. “A prática nas instituições também deve estar
articulada aos projetos de formação”, afirma Rodrigo Ednilson de Jesus, docente
da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e um dos envolvidos na pesquisa
sobre a implantação da lei. Para repensar as próprias práticas e posições, os
docentes devem observar suas atitudes e expectativas em relação aos alunos com
diferentes cores de pele. Será que há tratamentos distintos para alunos negros
e brancos? Todos recebem atenção, carinho e elogios? O primeiro passo para
superar o racismo silencioso é justamente combater o discurso de que não há
racismo. Em
entrevista a NOVA ESCOLA, o historiador francês Pap Ndiaye
afirma: “É necessário que as práticas sejam coerentes com a fala. Os
educadores, por exemplo, podem ter comportamentos discriminatórios ao orientar
os estudantes sobre as possibilidades de carreira. Para as de ensino técnico,
muitos encaminham os alunos que não são brancos. Para os demais, por sua vez, é
recomendado um curso universitário. A escola não está imune à
discriminação".
Na sala de aula,
não basta só problematizar atitudes racistas vindas dos alunos ou da comunidade
escolar mas também rever o conteúdo ministrado. O objetivo deve ser
desconstruir visões estereotipadas sobre africanos e afro-brasileiros e mostrar
a importância deles na construção das sociedades contemporâneas. Para isso, é
fundamental tratar do protagonismo desses grupos em diversos momentos da
história, representando-os como seres humanos que criaram laços familiares,
produtos culturais e que têm trajetórias próprias na história.
Neste especial
digital, apresentamos os principais eixos de conteúdo que o professor pode
abordar com as turmas de Ensino Fundamental: Identidade Negra, História da África, A luta dos negros no Brasil, Cultura afro-brasileira,
e Recursos Pedagógicos,
uma seleção de materiais de referência para apoiar a sua formação e para
trabalhar em sala. (Use o menu superior para
navegação entre as seções).
A incorporação do
tema ao projeto político-pedagógico, a influência do contexto local em uma
escola baiana e um projeto bem elaborado por um professor são contados na
reportagem de capa da revista NOVA ESCOLA de novembro, que estará nas bancas a
partir do dia 12 de novembro.
http://revistaescola.abril.com.br/consciencia-negra/africa-brasil/
acesso: 11/04/2015, às 13h43min
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