Alunos evangélicos se recusam a
fazer trabalho sobre a cultura afro-brasileira
Alunos se negaram a fazer
projeto sobre cultura afro-brasileira, alegando 'princípios religiosos',
afirmando que o trabalho faz apologia ao 'satanismo e ao homossexualismo'.
Manaus
(AM), 10 de Novembro de 2012
Polêmica
na escola motivou ida de representantes de Fórum,OAB e MPE
O protesto de um grupo de 13 alunos evangélicos do ensino médio da
escola estadual Senador João Bosco Ramos de Lima - na avenida Noel Nutels,
Cidade Nova, Zona Norte -, que se recusaram a fazer um trabalho sobre a cultura
afro-brasileira – gerou polêmica entre os grupos representativos étnicos
culturais do Amazonas.
Os estudantes se negaram a defender o projeto interdisciplinar sobre
a ‘Preservação da Identidade Étnico-Cultural brasileira’ por entenderem que o
trabalho faz apologia ao “satanismo e ao homossexualismo”, proposta que
contraria as crenças deles.
Por conta própria e orientados pelos pastores e pais, eles fizeram
um projeto sobre as missões evangélicas na África, o que não foi aceito pela
escola. Por conta disso, os alunos acamparam na frente da escola, protestando
contra o trabalho sobre cultura afro-brasileira, atitude que foi considerada um
ato de intolerância étnica e religiosa. “Eles também se recusaram a ler obras
como O Guarany, Macunaíma, Casa Grande Senzala, dizendo que os livros falavam
sobre homossexualismo”, disse o professor Raimundo Cardoso.
Para os alunos, a questão deve ser encarada pelo lado religioso. “O
que tem de errado no projeto são as outras religiões, principalmente o
Candomblé e o Espiritismo, e o homossexualismo, que está nas obras literárias.
Nós fizemos um projeto baseado na Bíblia”, alegou uma das alunas.
Intolerância gera debate na escola
A polêmica entre os alunos evangélicos e a escola provou a ida de
representantes do Fórum Especial de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros
do Amazonas, da Ordem dos Advogados do Brasil, secção do Amazonas, e do
Ministério Público do Estado.
Para a representante do movimento de entidades de direitos humanos e
do Fórum Especial de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros do Amazonas,
Rosaly Pinheiro, a problemática ocorrida na escola reflete uma realidade de
racismo e intolerância à diversidade. “Nós temos dados de que 39% dos gestores
e alunos das escolas são homofóbicos. Essa não pode ser encarada como uma oportunidade
para se destacar um fato ruim, mas sim uma oportunidade de se discutir, de uma
forma mais ampla essas questões com os alunos”,disse.
Para a representante do Ministério Público, Carmem Arruda,a situação
também deve ser encarada como uma oportunidade de esclarecer a comunidade.“É
uma chance de discutir a diversidade e uma oportunidade de construirmos uma
conscientização junto não apenas aos alunos, mas sim às famílias que serão
fazem refletidas junto a comunidade”.
Representante do Fórum pela Diversidade da OAB/AM, Carla Santiago,
ressaltou que o episódio não era para ser encarado como um ato que fere os
direitos de negros, homossexuais, mas sim um momento de conscientizar os alunos
sobre a etnodiversidade. A conversa entre os diversos segmentos envolvidos
prometia uma nova rodada, mas até o fechamento desta edição estava mantida a
posição da escola de cobrar o trabalho original passado aos alunos pelo
professor de História.
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