quinta-feira, 23 de abril de 2015

MAS VOCÊ NÃO É NEGRA

por Barbara Paes


       Toda vez que alguém me chama de "morena" ou "mulata" eu quero morrer um pouco. Ao mesmo tempo em que imagino que muita gente faça isso por costume, sem saber a violência que tá cometendo, carrego a certeza de que muita gente mede as palavras antes de verbalizar. Quando eu corrijo essas pessoas e peço para me chamarem de negra, quase sempre recebo um sorriso constrangido. Mas de vez em quando, algumas dessas pessoas acham legal tentar me convencer de que, na verdade, eu só posso ser mulata.
        Esses dias eu estava com a minha mãe (que é negra como eu) na sala de espera do consultório do meu médico, quando começamos a conversar com uma mulher (branca). Conversa vai, conversa vem, e de repente estávamos falando de como as universidades brasileiras têm poucos estudantes negros. Quando eu menciono que sou a única estudante negra da turma, a mulher me olha quase aterrorizada e diz "mas você não é negra, você é morena! Quando alguém é negro de verdade, a gente tem como perceber!"
        A dificuldade que alguns brancos têm em me apontar como negra é bem sintomática de como o racismo é estrutural na nossa sociedade. Para essa mulher (e para muitas outras pessoas como ela) é inconcebível que uma pessoa negra possa estar no mesmo consultório que ela, estudando em uma universidade pública. Para esse tipo de pessoa é assustador assumir que uma negra possa ter acesso aos mesmos serviços, colocar filhos nas mesmas escolas, frequentar os mesmos shoppings e comprar as mesmas marcas. Assumir tudo isso representa uma perda de status enorme para pessoas que tanto se apoiam na posição relativa ao branco em relação ao negro na nossa sociedade.
        Assim, muita gente branca optar por usar termos como "morena" ou "mulata", descrentes da possibilidade de existir uma pessoa "realmente negra" que compartilhe do mesmo poder aquisitivo. É feita uma associação, quase que automática, de classe média e alta com a população branca e de pobreza com a população negra. Essa associação imediata, combinada ao asco que a nossa sociedade tem do povo pobre e do povo negro, contribui para que exista uma resistência enorme em chamar alguém de negra, como se ser negra fosse uma vergonha. Neste caso, os rótulos de "mulata" ou "morena" se tornam tentativas de embranquecer, de evitar reconhecer que negras e negros possam ter, ou sequer almejar, o mesmo padrão de vida.
        O desconforto que alguns sentem em ver o surgimento crescente de uma classe média negra e universitária, ocupando os lugares que nos foram historicamente negados, é cada vez mais latente. Seja na menina branca na livraria que tenta me impedir de comprar um livro porque não acreditou que eu conseguisse ler em inlgês, seja nessa senhora no consultório médico dá pra reconhecer de longe gente que se sente incomodada ao ver uma mulher negra fazendo coisas "tipicamente brancas". Esse é um dos motivos pelos quais eu faço questão de sempre me declarar negra, especialmente quando estou em ambientes acadêmicos ou profissionais sempre reservados prioritariamente para brancos.
        A remuneração de uma mulher negra é 38,5% do salário de um homem branco de mesma escolaridade e função. Sabemos também que a universidade brasileira tem poucas estudantes negras (Dossiê Mulheres Negras, IPEA, 2013). Conhecemos os resultados violentos do racismo institucional a qual todas nós mulheres negras estamos submetidas diariamente. Nesse sentido, se assumir como negra ao ocupar uma posição profissional ou acadêmica usualmente reservada para brancos se torna uma decisão super importante. É através da afirmação da nossa identidade que temos força para reclamar nosso espaço na universidade, que denunciamos as violências que sofremos, que exigimos mais igualdade. É através da afirmação da nossa identidade que mostramos que ocupar as posições profissionais ou acadêmicas que almejamos é nosso direito.



terça-feira, 21 de abril de 2015

Plano de aula – A Verdade sobre a Escravidão Negra no Brasil
Publicado há 4 semanas - em 25 de março de 2015 » Atualizado às 10:53
Categoria » Esquecer? Jamais · Planos de Aula

Leia a matéria completa em: Plano de aula - A Verdade sobre a Escravidão Negra no Brasil - Geledés

“A Verdade sobre a Escravidão Negra no Brasil” – primeira reportagem



A Verdade Sobre a Escravidão Negra no Brasil - 1a. Reportagem 


                            A Verdade Sobre a Escravidão Negra no Brasil - 2a.Reportagem                        


              A Verdade Sobre a Escravidão Negra no Brasil - 3a. Reportagem                  


                A Verdade Sobre a Escravidão Negra no Brasil - 4a. Reportagem                           


         A Verdade Sobre a Escravidão Negra no Brasil - Última Reportagem
                                                        


sexta-feira, 17 de abril de 2015

100 ANOS DE HISTÓRIA E BELEZA DOS CABELOS CRESPOS EM APENAS 60 SEGUNDOS

Cabelos crespos
É uma tarefa ambiciosa para recriar um século de tendências de beleza em apenas 60 segundos. Mas o site Cut, que nos deu no mês passado os virais “100 Anos de Beleza em 1 Minuto” em vídeo.

no Elle

Na segunda parte da série, modelo Marshay tenta sobre mais 10 tendências de 1910 a 2010. E é hipnotizante.
Ver o vídeo juntamente com uma comparação lado-a-lado dos dois clipes, abaixo:

https://www.youtube.com/watch?v=hsyAINzPSd0

quinta-feira, 16 de abril de 2015

A TURMA QUE NÃO "SE ADAPTOU" A TER UMA ALUNA NEGRA: UMA DENÚNCIA DE RACISMO


Daquelas coisas que você lê no Facebook e não acredita que possa ser verdade diante do tamanho absurdo. Uma mãe que recebeu uma ligação da escola da filha informando que ela estava sendo mudada de sala porque “a turma não se adaptou a ela”. Como assim? A menina em questão tem 12 anos, de uma pele linda e reluzente, que gosta de usar um aplique trançado no próprio cabelo. Para a turma que “não se adaptou a ela” leia-se: não se adaptou a ela por ela ser negra. Ficou horrorizada? Eu também fiquei.


Lorena foi convidada a se retirar de uma turma onde alunos a discriminavam, desrespeitavam, soltavam piadinhas terríveis e ridículas. Assim, na lata: o errado vencendo o certo. O bullying acima da tolerância às diferenças. O racismo no lugar do respeito. Já que para a tal escola quem está fora dos padrões é a parte desrespeitada e não a parte que desrespeitou.

A mãe dela escreveu uma carta aberta. E nesta história, não há como justificar o comportamento racista dos colegas da filha dela. Absolutamente nada justifica esta aberração. Camila, a mãe, conta que recebeu uma mensagem pelo WhatsApp da filha que dizia: “olha só o que sofro”. Junto com esta frase havia uma gravação que a menina fez com a voz dos colegas.

A sequência do que se ouve é deprimente. Os colegas disparam atrocidades do tipo: “Sua preta, testa de bater bife do cara******!”
“Eu sou racista mesmo, quando eu quero ser racista eu sou racista, entendeu?”
“Toda vez que eu encontrar ela na minha frente eu vou zuar até ela chorar”
“Você vai ficar neste grupo até você chorar”
“Cabelo de movediça, cabelo de miojo, cabelo de macarrão”


Isto não aconteceu há dois séculos atrás. Isto foi há duas semanas, em São Bernardo do Campo, São Paulo. Que tipo de crianças, adolescentes são estes? Que tipo de exemplos eles recebem em casa? Que vergonha desses pais.

As crianças são uma folha em branco, moldadas por nós e pelo ambiente em que vivem. E eu fico pensando o que a gente realmente precisa fazer na prática para ensinar os nossos filhos o quanto ser racista é absurdo. É inadmissível deixar que eles usem termos pejorativos. É imprescindível explicar que cada um é de um jeito, mas somos todos iguais no quesito respeito. Precisamos com urgência colocar a mão na consciência e trilhar um caminho para criar filhos bacanas e inteligentes e não criaturinhas preconceituosas e dignas de pena como estes meninos que ofenderam a Lorena.

Fabiana Santos é jornalista, mãe de Felipe, de 10 anos e Alice, de 4 anos. Eles moram em Washington-DC. O melhor amigo de Felipe se chama Leland e é negro. Mas isto não faz a menor diferença pra eles,  porque amizade não tem cor. 

17 FRASES RIDÍCULAS QUE PESSOAS NEGRAS ESTÃO ACOSTUMADAS A OUVIR DITAS ÀS PESSOAS BRANCAS


Quanto a gente inverte as coisas o a racismo fica mais evidente. Por  e pesquisa realizada com o auxílio de Alcides Lima De Lima Jr e Mariana Benedito.


Frases ridículas que pessoas negras estão acostumadas a ouvir

1. “Eu não sou racista, até tenho amigas brancas”.

2. “Não tenho preconceito, eu tinha um amigo branco na infância que até comia na minha casa… “

3. “Você acha que tem preconceito contra branco no Brasil?”

4. “Como você fez pro seu cabelo ficar assim?”

5. “Brancão sempre tem um p** enorme, né?”

6. “Sempre quis saber como é uma branca na cama”.

7. “Você já pensou em ser passista de escola de samba?”

8. “Você é um branco bonito, não tem os traços tão fortes, sabe?”

9. “Mas ele é um branco de alma negra!”

10. “Que cor branca interessante você tem!”

11. “Branco tem mania de perseguição”.

12. “Seus pais também são brancos?”

13. “Eu não sou racista, tinha uma funcionária/empregada branca em casa, todos adoravam ela, uma fofa.”

14. “Tinha que ser branco!”

15. “Eu até já peguei uma branquinha”

16. “Você deve gostar de morena. Né, brancão?”

17. “Não sou teus brancos


Fonte: BuzzFeed


Vamos Falar Novamente Sobre Racismo Inverso.

O RACISMO REVERSO EXISTE E PRECISA SER COMBATIDO

Mais uma vez falando sobre racismo, mas dessa vez é um racismo que vem acontecendo com muita frequência, inclusive sou alertado sobre esse perigoso fato quase que diariamente por amigos que conhecem a minha militância. Sim meus caros, falarei sobre o RACISMO INVERSO, essa discriminação dos negros contra os brancos, esse racismo perverso que sempre existiu e que vem crescendo ultimamente, não só no nosso país, mas em todo o mundo.

por Felipe Cardoso no Chuva Ácida


Para começo de conversa, devemos esclarecer: preconceito é aquela ideia de algo ou alguém que temos (em nossa mente e em nossos corações) sem ao menos conhecer o algo ou o alguém. Discriminação é o ato de expor, colocar para fora, divulgar todo essa nossa ideia (pré-conceito), com doses absurdas de ódio e ignorância, que nos fazem elaborar discursos com fundamentos rasos, mas cheio de ofensas a algo ou a alguém. Já o racismo, bom, o racismo é algo que precisamos recorrer à história para podermos explicar, mas devo informar que, segundo os meus amigos, só existe o racismo de negros contra brancos.

Pois é, vamos voltar um pouco no tempo e ver como tudo isso começou para, assim, conseguirmos analisar com calma as consequências desse passado trágico que insiste em nos prejudicar atualmente. Espero que não se assustem com essa história de opressão vivida pelo povo caucasiano:

“Foram os povos do continente Africano que se lançaram em uma jornada imperialista em busca de novas terras e mais poder. A primeira parada foi no continente Europeu. Sim, imaginem só. Ao se depararem com uma cultura totalmente diferente, os africanos se reuniram e arrumaram um jeito de fazer com que o povo europeu acreditasse que eram uma raça inferior, que eram amaldiçoados, que não tinham alma e que precisariam trabalhar muito para se redimirem, mas mesmo ‘dando duro’, ainda não conseguiriam se livrar da maldição.

Depois de convencerem os europeus, os africanos roubaram suas terras, seus recursos naturais, escravizaram seu povo, separaram suas famílias, lucraram com o trabalho escravo e não lhes pagaram um vintém.

Durante séculos utilizaram suas terras, exportaram sua mão de obra para outros continentes também conquistados por líderes africanos. Forçaram os europeus a saírem de suas terras e viajarem, durante dias, dentro de um compartimento de navio sem ventilação, dividindo espaço com ratos e outros escravos mortos, que não sobreviveram à tamanha perversidade.

Estupraram as mulheres e as obrigaram a trabalhar grávidas. Mataram, escravizaram e venderam seus filhos. Imaginem só, que povo sem coração. E que tal deixá-los sem direito a saúde e educação por mais de cinco séculos? Deixar toda a população europeia desnorteada, forçando-os, futuramente, a abandonarem suas terras em busca de uma vida melhor no continente Africano, já pensou?

Pois bem, resumindo um pouco essa terrível história e trazendo para os dias de hoje, podemos perceber que a opressão continua mesmo após o fim da escravidão. A maioria dos caucasianos vive nas periferias das cidades. Frequentam escolas públicas (quando frequentam). Jovens brancos são mortos diariamente pela polícia. 

Pessoas brancas são vigiadas e seguidas por seguranças ao entrarem em estabelecimentos. Não vemos políticos brancos. Na televisão, nas propagandas, na moda, não há nenhuma representatividade branca, ganham destaque somente através dos esportes, mas, mesmo assim, ainda sofrem preconceito. Mas são defendidos por alguns negros que lançam campanhas do tipo #somostodosursopolar.

Colocamos este Post para justificar esta matéria Câmara decreta ponto facultativo pela ‘Consciência Branca’ em Sertãozinho


E se ainda não bastasse, os brancos tem que aturar os humoristas negros que usam e abusam dos estereótipos para caçoar deles. “Eles não sabem dançar”, diz Babalu Gentiki. “Eles ficam vermelhos quando estão envergonhados”, afirma, aos risos, o comediante Ko Joases.

Ah, e o padrão de beleza? Já ia me esquecendo dele. Durante anos os negros humilharam e riram dos brancos, o que fez com que eles passassem a odiar sua fisionomia, seus traços, sua cor. Na ditadura da beleza as mulheres brancas encrespam seus cabelos, alargam seus narizes e usam várias técnicas para deixar seus lábios com uma aparência mais avantajada. Já os homens usam os cabelos raspados, pois desistiram de tentar cacheá-los.

Mas existe um grupo de caucasianos que diz lutar por justiça, mas na verdade só querem garantir privilégios a esse povo que não gosta de trabalhar. Eles pedem por cotas raciais nas universidades, por mais representatividade, igualdade e respeito. Algo relacionado a Ações Afirmativas, Estatuto da Igualdade… Mas ninguém liga para eles.”

Sabemos que isso de fato aconteceu e ainda acontece, só que os personagens estão invertidos. Se isso realmente tivesse acontecido com os caucasianos, poderíamos acreditar que o RACISMO INVERSO realmente existe. Mas sinto desapontá-los e dizer que o título é uma falácia. Existe no Brasil uma tentativa de transformar o oprimido em opressor constantemente.

Para encerrar e evitar alguma confusão na interpretação do texto utilizo a citação da Fran Vasconcelos que acredito ter uma função muito importante para o entendimento do que é racismo e como ele se insere na sociedade:

“O racismo é um sistema de sentidos material e histórico, não é subjetivo. É um modo de organização social em que uma ‘raça’ se sobrepõe a outra, se afirma como paradigma, se naturaliza como regra e oprime as demais. O racismo não é algo subjetivo, individual, que se manifesta entre pessoas. Ele está estruturado e inserido na sociedade, na forma como ela se organiza e se reproduz, no mercado de trabalho, na mídia, entre as vítimas da violência, entre o público do sistema carcerário, entre os pobres em todo o mundo, entre os proprietários e os não proprietários”.




Vamos Falar Sobre Racismo Reverso?

O que é mesmo racismo reverso? Wanda Sykes vai explicar.

FALAR EM RACISMO REVERSO É COMO ACREDITAR EM UNICÓRNIOS 

Não existe racismo de negros contra brancos porque este é um sistema de opressão. Negros não possuem poder institucional para serem racistas


Em quase todas as discussões sobre racismo, aparece alguém para dizer que já sofreu racismo por ser branco ou que conhece um amigo que sim. Pessoa, esse texto é para você.

Não existe racismo de negros contra brancos ou, como gostam de chamar, o tão famigerado racismo reverso. Primeiro, é necessário se ater aos conceitos. Racismo é um sistema de opressão e, para haver racismo, deve haver relações de poder. Negros não possuem poder institucional para serem racistas. A população negra sofre um histórico de opressão e violência que a exclui.

Para haver racismo reverso, deveria ter existido navios branqueiros, escravização por mais de 300 anos da população branca, negação de direitos a essa população. Brancos são mortos por serem brancos? São seguidos por seguranças em lojas? Qual é a cor da maioria dos atores, atrizes e apresentadores de TV? Dos diretores de novelas? Qual é a cor da maioria dos universitários? Quem são os donos dos meios de produção? Há uma hegemonia branca criada pelo racismo que confere privilégios sociais a um grupo em detrimento de outro.

Em agosto deste ano, Danilo Gentili quis comparar o fato de ser chamado de palmito com o fato de um negro ser chamado de carvão. E disse ser vítima de racismo, mostrando o quanto ignora o conceito. Ser chamado de palmito pode até ser chato e de mau gosto, mas racismo não é. A estética branca não é estigmatizada. Ao contrário, é a que é colocada como bela, como padrão. Danilo Gentili cresceu num País onde pessoas como ele estão em maioria na mídia, ele desde sempre pôde se reconhecer. Pode até ser chato, mas ele não é discriminado por isso. Que poder tem uma pessoa negra de influenciar a vida dele por chamá-lo de palmito? Nenhum. Agora, um jovem negro pode ser morto por ser negro, eu posso não ser contratada por uma empresa porque eu sou negra, ter mais dificuldades para ter acesso à universidade por conta do racismo estrutural. Isso sim tem poder de influenciar minha vida. Racismo vai além de ofensas, é um sistema que nos nega direitos.

Gentili com esse discurso de falsa simetria só mostra o quanto precisa estudar mais. Não se pode comparar situações radicalmente diferentes. Quantas vezes esse ser foi impedido de entrar em algum lugar por que é branco? Em contrapartida, a população negra tem suas escolhas limitadas. Crianças negras crescem sem auto-estima porque não se veem na TV, nos livros didáticos. Mesmo raciocínio se aplica às loiras que são vítimas de piadas de mau gosto ao serem associadas à burrice.
É óbvio que se trata de preconceito dizer que loiras são burras e isso deve ser combatido. Mas não existe uma ideologia de ódio em relação às mulheres loiras, elas não deixaram de ser a maioria das apresentadoras de TV, das estrelas de cinema, das capas de revistas por causa disso. Não são barradas em estabelecimentos por serem brancas e loiras. Sofrem com a opressão machista, sim, mas não são discriminadas por serem brancas porque o grupo racial a que fazem parte é o grupo que está no poder. Há que se fazer a diferenciação aqui entre sofrimento e opressão. Sofrer, todos sofrem, faz parte da condição humana, mas opressão é quando um grupo detém privilégios em detrimento de outro. Ser chamado de palmito é ruim e pode machucar, mas não impede que a pessoa desfrute de um lugar privilegiado na sociedade, não causa sofrimento social.

Uma amiga, na infância, uma vez, não deixou que eu e meus irmãos entrássemos na sua festa, apesar de nos ter convidado, porque seu tio não gostava de negros. E nos servia na calçada da casa dela até que, indignados, fomos embora. Alguma pessoa branca já passou por isso exclusivamente por ser branca?

Muitas vezes o que pode ocorrer é um modo de defesa, algumas pessoas negras, cansadas de sofrer racismo, agem de modo a rejeitar de modo direto a branquitude, mas isso é uma reação à opressão e também não configura racismo. Eu posso fazer uma careta e chamar alguém de branquela. A pessoa fica triste, mas que poder social essa minha atitude tem? Agora, ser xingada por ser negra é mais um elemento do racismo instituído que, além de me ofender, me nega espaço e limita minhas escolhas. 
Vestir nossa pele e ter empatia por nossas dores, a maioria não quer. Melhor fingir-se de vítima numa situação onde se é o algoz. Esse discursinho barato de “brancofobia” quando a população branca é a que está nos espaços de poder faz Dandara se remexer no túmulo.

Não se pode confundir racismo com preconceito e com má educação. É errado xingar alguém, óbvio, ser chamado de palmito é feio e bobo, mas racismo não é. Para haver racismo, deve haver relação de poder, e a população negra não é a que está no poder. Acreditar em racismo reverso é mais um modo de mascarar esse racismo perverso em que vivemos. É a mesma coisa que acreditar em unicórnios, só que acreditar em cavalos com chifres não causa mal algum e não perpetua a desigualdade.




9 COISAS QUE PESSOAS BRANCAS NÃO DEVERIAM DIZER SOBRE RACISMO

Parece que, quando a conversa não é explícita – como quando pessoas brancas usam palavras como ‘macaco’ ou recusam serviços baseado na cor da pele – trazer a tona o assunto do racismo coloca muitas pessoas na defensiva ou induz afirmações bravas que negam a sua existência. Essa é uma reação que muitas pessoas não-brancas estão cansadas de receber de pessoas que tem privilégio racial, e não tem nenhuma ideia tangível do que é experimentar as injustiças sociais e institucionais de não ser branco na América.

Muitas pessoas de diferentes raças querem espaço para discutir essas questões dentro de uma cultura que amplifica vozes brancas – querem ter suas vozes ouvidas e respeitadas, mesmo que suas emoções venham de um lugar de dor.

Como pessoas que se beneficiam de um privilégio racial, brancos podem apoiar a lideranças de pessoas não-brancas ao desafiar esses mitos naturalizados sobre racismo antes mesmo de entrar em uma discussão com o assunto, principalmente discussões com pessoas que não são brancas.

1. “Você que é racista por trazer a tona a raça da pessoa.”
Geralmente, quando uma pessoa que não é branca fala de racismo, existe alguma coisa problemática acontecendo. Seria ingênuo assumir que todas as pessoas que não são brancas simplesmente existem como oportunistas que usam toda e qualquer chance para fazer drama sobre o racismo. Se você está cansado de ouvir sobre racismo, o quão cansado você imagina que pessoas não brancas estão de ter que viver rodeados pelo racismo?

2. Eu não vejo raça, somos todos seres humanos”.
Embora isso possa soar revolucionário, ser cego a cores é, na verdade, parte do problema. “Não ver cor” é simplesmente uma frase preguiçosa para deliberadamente ignorar os elementos do racismo que ainda existem e que precisam ser consertados – assim, reforça o privilégio de poder ignorar os efeitos negativos do racismo em primeiro lugar. Como o ditado diz: “você não pode consertar aquilo que você não pode ver”.

3. “Falar sobre o assunto usando termos como ‘pessoas brancas’ e ‘privilégio branco’ é racismo reverso”.
Então, sobre racismo reverso… isso não existe (assista para entender por que). Não é segredo que é humanamente possível que uma pessoa não-branca tenha preconceito contra pessoas brancas. Às vezes, isso é uma atitude que se desenvolve com o tempo porque sua experiência com o racismo fez com que chegassem a conclusão que não existem pessoas brancas “boas” no mundo. E embora seja importante haver uma cura nesses instantes – bem mais raros – de preconceitos, essa atitude não vem com uma sistema de benefícios e poder institucional que pessoas brancas tem. Essa é toda a diferença entre racismo e preconceito, porque, racismo, em seu cerne, está baseado em todo um sistema além da opinião individual.

4. “Você [não-branco] claramente não sabe o que é racismo. De acordo com o dicionário de Webster….”
Não faça isso. Dê um passo para trás dessa situação infantilizante e evite ser uma pessoa branca ditando como o racismo funciona para uma pessoa que tem experiências reais com ele. Como o dicionário define o assunto? É uma simplificação de um tópico que precisa de sua própria tese.

5. “Você [pessoa não-branca] disse algo sobre pessoas brancas fazendo coisas racistas, então eu exijo que você explique isso pra mim agora”.
Não ser branca não torna a pessoa um educador disponível para explicar justiça racial, especialmente se ela não tem relacionamento ou afinidade com quem está buscando o conhecimento. Na era da internet, se você não conhece alguém de uma comunidade em particular com quem conversar, você provavelmente pode encontrar essas vozes em blog, no Twitter, ou mesmo colunas e artigos de notícias, falando das coisas de uma maneira simples de entender. Ao invés de cansar as pessoas já cansadas de lidar com o racismo, tente se autoeducar antes de sair batendo na porta dos outros.

6. “Mas meu amigo [de tal raça] diz que era OK fazer [coisa problemática]”.
Ainda assim, não é a melhor ideia aplicar aquela relação com aquele seu um amigo para um grupo inteiro de pessoas, muitas das quais têm relações diferentes com certas palavras, ações e gestos. Você tocaria o cabelo de uma mulher negra que você não conhece porque sua amiga negra permite que você toque no dela?

7. “Pare de me atacar por ter privilégio só porque eu sou branco. É racista e ofensivo.”
Quando as pessoas criticam racismo e privilégio branco, elas estão falando de maneira geral sobre um sistema e não sobre o individual. A não ser, é claro, que o indivíduo em questão mereça ter que lidar com suas atitudes racistas.

8. “Estou cansado de fingir que [tal raça] precisa de tratamento especial e programas de auxílio só porque não são brancos. Nós temos problemas também, sabem”.
Ter problemas na vida é parte inerente de ser humano. Mas é preciso humildade e empatia para tomar um tempo e espaço para autorreflexão e para realmente entender que para alguns de nós é muito mais fácil do que para outros – mesmo com nossas tentativas provisórias para garantir oportunidades iguais para todas.

9. [Inserir expressão de olhos marejados de culpa ou negação de privilégio branco].
Primeiramente, tudo bem ter emoções ou se se sentir realmente arrependido quando está claro que um sistema cruel foi perpetuado por alguma palavra ou expressão sua. Policiar as emoções alheias não é legal, e pessoas não-brancas sabem melhor do que ninguém. Porém, geralmente, quando as lágrimas começam a cair, elas se relacionam com a rejeição completa da ideia de que ser branco garante privilégios e é considerado o normal em basicamente toda estrutura social e institucional. Assim, ao invés de se concentrar nas muitas, profundamente doloridas experiências das pessoas não-brancas, a pessoa em questão acaba desviando a conversa e a tornando sobre ela mesma.

Isso não só desvia a culpa de uma maneira que é historicamente perigosa, como também reforça o próprio privilégio sendo interrogado: porque essas lágrimas brancas e esses sentimentos brancos são muitas vezes priorizados acima das lutas diárias de pessoas não-brancas.

Vamos orar?

ORAÇÃO AOS ORIXÁS


MARCA BRASILEIRA LANÇA GIZ DE CERA COM VÁRIAS "CORES DE 

Nas caixas de lápis de cor, não há muitas opções para tons de pele. As crianças ficam em dúvida e acabam colorindo o corpo das pessoas que desenham com bege ou rosa, claro, que são chamadas exatamente de “cor da pele” pelos alunos. Mas a pergunta que surge é: cor da pele de quem? E o marrom e o preto, não são cores de pele também?

A Uniafro (Programa de Ações Afirmativas para a População Negra), em parceria com a empresaKoralle, criou um estojo de giz de cera com 12 cores de pele, que variam do bege ao marrom-escuro. A ideia é fazer com que as crianças encontrem tons entre opções mais realistas, mostrar a diversidade racial da nossa população e promover a igualdade entre os alunos.


O estojo é distribuído aos professores do Rio Grande do Sul, que realizam um curso de qualificação de ensino de história e cultura africanas para escolas públicas. Mas, você pode encontrar o kit de giz de cera à venda no site da empresa.



Abaixo alguns desenhos criados pelas crianças da escola do Rio Grande do Sul com as novas cores: